Justificativa:
Para muitos educadores existe uma divisão e uma hierarquização
entre espaços internos e externos. Para os educadores espaços
internos são exclusivos para a realização de atividades
pedagógicas e os externos para, como diz Horn (2013), diversão e
desafogo, o que denota a perspectiva de que os espaços internos são
indicados às atividades de aprendizagem e os externos, como
recreativos, destituídos de grande valor para a aprendizagem das
crianças. Também, para Mello (2002), não
deve haver hierarquia entre os espaços. O refeitório onde as
crianças comem, o espaço de dormir, a sala de atividades, o
corredor, os banheiros, todos os espaços “devem ser igualmente
cuidados e todos devem ser tratados educativamente, decorados pelas
crianças como espaços de enriquecimento de suas experiências”.
Isso envolve uma mudança de concepção em relação ao espaço: a
organização e exploração dos ambientes “acontece para estimular
e enriquecer a experiência da criança porque acreditamos que ela é
competente para aprender”.
Horn e
Haddad mostram como os adultos podem desfavorecer a vivência plena
da infância quando se mostram insensíveis aos desejos das crianças
de explorarem o mundo de forma ampla:
O
confinamento entre as quatro paredes parece ser a realidade vivida
por muitas de nossas crianças, fadadas a ver o sol, a sentir o ar, a
subir nas árvores em exprimidos intervalos de tempo ou através de
janelas estreitas: “Cada vez mais se colocam lajes nos pátios, se
encurtam os horários de se estar nesses locais, com a desculpa de
que causa ‘transtornos e trabalho’ o fato de as crianças
encherem os sapatos com areia, se sujarem com o barro, se molharem
com a água e também a crença de que para realmente aprenderem o
que a escola tem de ensinar, as atividades com lápis, papel,
realizadas em mesas, devem ser as mais importantes” (Horn
e Haddad, 2013).
A função do adulto é, portanto, ser o organizador de experiências
para garantir que estas respondam às necessidades de aprendizagem e
desenvolvimento das crianças. Para Suely Amaral Mello “Não é
papel do educador vigiar, cuidar, controlar, fazer pela criança, mas
propor atividades atraentes, colocar a criança em condições de
agir. Nesse momento, o educador é observador da atividade infantil,
leitor das diferentes linguagens que a criança usa para comunicar
suas necessidades e companheiro das brincadeiras e das atividades
através das quais estabelece uma relação de carinho e cumplicidade
com a criança”. Pois é através dessas interações que as
crianças produzem a primeira de uma série de culturas de pares nas
quais o conhecimento infantil e as práticas são transformadas
gradualmente em conhecimento e competências necessárias para
participar do mundo adulto.
Em interação com os outros, as crianças constroem-se seres sociais
e a isso denomina-se “culturas infantis” (CANAVIEIRA, 2010, p.
31). As culturas infantis (formas de ser, estar, pensar, agir e
sentir) específicas da infância, distintas das dos adultos mas
interdependentes que são caracterizadas pela brincadeira e pela
fantasia.
O brincar é a atividade que permite e garante à criança a
apropriação da cultura dos objetos e dos fenômenos pelas relações
humanas, e, quando se apropria dos conhecimentos da cultura, torna-se
também capaz de produzir cultura (SCHNEIDER, 2004, p.58).
Portanto, um dos lugares que as crianças podem manifestar suas
culturas infantis e culturas de pares é a área externa a sala de
referência. Ali um grupo heterogêneo de crianças e adultos
encontram-se proporcionando interações. Outro motivo é que todos
os dias as crianças necessitam estar em contato com a vida ao ar
livre, para Suely Amaral Mello a vida no Centro de Educação
Infantil prevê que “O banho de sol pela manhã é condição para
a saúde das crianças. Por isso, a organização do tempo das
crianças até os três anos deve contemplar: o sono, o banho de sol,
a alimentação, o banho, e o tempo livre para explorar o espaço
externo e interno da creche que deve estar organizado de forma que a
criança se sinta atraída pelos materiais e se interesse pelas
experiências possíveis de serem vivenciadas com os materiais”.
Para isso acontecer é preciso pensar em privilegiar a exploração e
o encantamento pelos diversos espaços do Centro, pois como diria
Mello “não há uma hierarquia de espaço: os espaços devem ser
caracterizados de acordo com as atividades diferenciadas que ali se
desenvolvem”.
Uma forma de religar as crianças com esses espaços, principalmente
com a natureza é reinventar as rotinas, organizando tempo para as
crianças frequentarem a área externa diariamente. Explorar a
utilização dos espaços arborizados, com terreno elevado, pontes,
barrancos, tubos, labirintos de toras de madeira, pergolado, entre
outras possibilidades e desafios que oportunizam diferentes
experiências com a natureza, respeitando as interações e
brincadeiras que as crianças estão realizando. Também é preciso
considerar se as crianças desejam ficar próximas as educadoras ou
não, se desejam passar o dia ali ou explorar outro espaço...
As vezes acreditamos que as crianças precisam passar pouco tempo
nesses locais, pois são pequenas e exigem alguns cuidados, mas
acabamos descobrindo que o tempo é determinado por elas. Se
estiverem interagindo, brincando, explorando não devemos
interromper, mesmo que para o adulto pareça ser um longo período.
Na Educação Infantil o tempo é uma categoria
constitutiva das condições de desenvolvimento e humanização das
crianças. Sem tempo não há aprendizagem e
consequentemente não há
desenvolvimento. Sem tempo
exclui-se a vida.
As crianças aprendem em todos os espaços, estão adquirindo suas
aptidões, suas habilidades e suas capacidades, portanto é essencial
estarem vivenciando as interações e brincadeiras em todos os
espaços, para que assim possam apropriar-se da cultura elaborada
pela humanidade. Para finalizar, gostaria de parafrasear Vygotsky,
que nos faz refletir sobre como a criança aprende, afirmando que o
desenvolvimento da inteligência e da personalidade é externamente
motivado, ou seja é resultado da aprendizagem e os espaços internos
e externos são locais propício à isso.
Objetivo Geral: Incentivar a curiosidade, a exploração, o
encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das
crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e a
natureza.
Objetivos Específicos:
- Explorar, brincar e interagir nos diferentes espaços;
- Interagir e brincar com crianças de outras idades;
- Explorar os elementos da natureza;
- Vivenciar interagindo e brincando com autonomia;
- Escolher os espaços, adultos, crianças e brincadeiras.
Ações Pedagógicas: Todos os dias as crianças irão explorar os
diferentes espaços. Irão ao parque, ao solário, a areia, a área
coberta, ao refeitório, ao banheiro, a sala de referência de outras
crianças, a entrada do Centro, ao estacionamento. As crianças
explorarão os espaços o quanto desejarem, podendo circular
livremente com autonomia. Elas escolherão do que querem brincar, com
quem querem interagir, se querem estar sentadas ou de pé. As
educadoras terão papel fundamental na mediação, irão propor as
crianças algumas brincadeiras, alguns espaços de descobertas,
algumas interações mas elas terão autonomia, liberdade e serão
respeitadas em suas escolhas, independentemente se não for
confortável aos adultos.
Quando formos ao solário, a área coberta, a entrada levaremos
alguns brinquedos para ampliar o repertório de escolhas para as
brincadeiras. Também proporcionaremos encontros com diversas idades
para privilegiarmos as culturas infantis e de pares.
Objetivos Específicos:
- Explorar, brincar e interagir nos diferentes espaços;
- Interagir e brincar com crianças de outras idades;
- Explorar os elementos da natureza;
- Vivenciar interagindo e brincando com autonomia;
- Escolher os espaços, adultos, crianças e brincadeiras.
Ações Pedagógicas: Todos os dias as crianças irão explorar os
diferentes espaços. Irão ao parque, ao solário, a areia, a área
coberta, ao refeitório, ao banheiro, a sala de referência de outras
crianças, a entrada do Centro, ao estacionamento. As crianças
explorarão os espaços o quanto desejarem, podendo circular
livremente com autonomia. Elas escolherão do que querem brincar, com
quem querem interagir, se querem estar sentadas ou de pé. As
educadoras terão papel fundamental na mediação, irão propor as
crianças algumas brincadeiras, alguns espaços de descobertas,
algumas interações mas elas terão autonomia, liberdade e serão
respeitadas em suas escolhas, independentemente se não for
confortável aos adultos.
Quando formos ao solário, a área coberta, a entrada levaremos
alguns brinquedos para ampliar o repertório de escolhas para as
brincadeiras. Também proporcionaremos encontros com diversas idades
para privilegiarmos as culturas infantis e de pares.
Referências:
VIGOTSKI,
L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores, organização de Michael Cole et
al. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
VIGOTSKI,
L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e
aprendizagem. São Paulo: Ícone: Edusp, 2001.
MELLO,
S. A. As linguagens, as
armadilhas e a utopia.
[on line] Disponível na Internet via www. URL:
http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/prog_pdf/prog13_03.pdf
. Arquivo capturado em 15 de junho de 2014.
MELLO,
S. A. Metodologia da
Educação Infantil.
[on line] Disponível na Internet via www.
URL: http://pedagogiaeinfancia.blogspot.com.br/p/creche.html.
Arquivo
capturado
08 de setembro de 2014.
MELLO,
S. A. Infância e
humanização: algumas considerações na perspectiva
histórico-cultural. Perspectiva,
Florianópolis, v. 25, n. 1, p. 83 – 104, jan./jun. 2007.
MELLO,
S. A. Contribuições na educação infantil para a
formação do leitor e produtor de textos.
Diretrizes Nacionais Pedagógicas para a Educação Infantil,
Florianópolis, 2010, p. 43 – 52.
BRASIL,
MEC/SEB/COEDI; TIRIBA, L. Crianças da natureza. Brasília:
MEC/SEB, 2010h.
CANAVIEIRA,
F. O. A educação infantil no olho do furação: o movimento
político e as contribuições da sociologia da infância.
(Dissertação de Mestrado), Campinas, SP: Unicamp, 2010.
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