sábado, 20 de junho de 2015

Planejamento e docência na educação infantil: um retrato que deve ser colorido

Ontem deixei-me afetar pela fala de um professor que aludia à necessidade de estudar, pesquisar e ler incansavelmente se quisermos ficar sabendo sobre o Continente Africano, como local geográfico que remonta a história de todos nós. Dizia ele que se encontrava há vinte e cinco anos nesse processo e ainda era precária sua formação para falar aos estudantes sobre o assunto.

Fiquei pensando na história da educação da criança de 0 a 5 anos no Brasil e senti-me mais confortável, uma vez que ela é muito recente. Apesar da contemporaneidade dos estudos sobre a educação infantil como primeira etapa da Educação Básica (leia-se LDB/96), não podemos nos alijar da responsabilidade como co-produtores dessa história, ignorando a urgência de nos colocarmos como os maiores interessados nos estudos sobre as transformações históricas da concepção de criança/infância. Para quem não atenta a esse detalhe, é a partir dessa concepção que delineamos nossa prática.


A afirmação acima tem por base minha própria história no magistério. As concepções que me conduziram nesses anos todos determinaram minhas escolhas para as crianças, mas eu não sabia. Somente quando fui tocada pela Teoria Histórico-Cultural passei a refletir sobre como minha concepção de criança influenciava minha prática.

Há profissionais que acreditam que mudar de ideia sobre algo é motivo de constrangimento. Não é, não. Grandes pensadores, no decorrer de sua vida dedicada a pesquisas em busca de teorias, foram capazes de dizer que mudaram de ideia. Um deles foi Sigmund Freud.

Nesse sentido, quero refletir sobre um texto que nos encaminha (mais um) a tomar em nossas mãos a responsabilidade sobre o que oferecemos às crianças cotidianamente. É o texto de Maria Cecília Braz Ribeiro de Souza e Luíza Franco Duarte*, intitulado "Do improviso à intencionalidade na educação infantil: debate de concepções".

O texto convida a parar para analisar quais são nossas intenções ao escolher as atividades e os materiais com que se desenvolverá nossa prática pedagógica. Enseja que a Teoria Histórico-Cultural pode contribuir de modo esclarecedor em relação ao que desejamos para a infância, através da compreensão do que é uma educação que objetiva a humanização das novas gerações. As intenções que subjazem às nossas escolhas revelam como oportunizamos as vivências no ambiente, o encontro entre as crianças e as linguagens que suscitam quando crianças e adultos convivem num ambiente pleno de possibilidades de expressão nas diferentes linguagens.

As autoras citam Mello (2006, p. 199) para destacar três pontos fundamentais que justifica a adoção da Teoria Histórico-Cultural a embasar práticas pedagógicas com intencionalidade:
- educação como um processo de humanização;
- desenvolvimento como produto do acesso social e intencionalmente organizado à cultura;
- papel do educador como essencial e sempre colaborativo.

Como cada um desses aspectos organiza nossas escolhas para o trabalho com as crianças?

As crianças, em primeiro lugar, contam com a certeza de que os profissionais da educação, geração de adultos que possui formação em Pedagogia, que tem o hábito de se atualizar por isso lê e se aperfeiçoa constantemente e que têm como ferramenta de trabalho a reflexão sobre suas práticas, estejam aptos a "cuidar" para que chegue a elas o melhor da cultura produzida pela humanidade. Esses educadores entendem que a educação infantil é um processo de humanização.

Em segundo lugar, que tenham compreendido que o ofício docente exige que se planifiquem sistematicamente as ações que serão realizadas junto às crianças. Quero ressaltar que não se trata de elaborar um plano de trabalho que exclui a participação das crianças na tomada das decisões ou para excluir pelo quê elas estão curiosas e mobilizadas. Contar com a participação das crianças é um dos passos que se prevê no planejamento. As crianças, quando compreendidas em sua forma própria de produzir saberes e cultura, são reconhecidas como protagonistas nas escolhas do que irão aprender.

Em terceiro lugar, que os profissionais levem em consideração que o planejamento das práticas pedagógicas, que incluem o encontro de crianças de várias idades, caracterizem-se como ações muitas das quais pensadas no coletivo do grupo de adultos.

E finalmente, e não menos importante, que os profissionais tenham a perspicácia de notar quais conhecimentos do patrimônio cultural da humanidade, seja tecnológico, ambiental, científico, artístico, será importante trabalhar com as crianças.

O texto de Souza e Duarte é fundante para compreender como as ações educativas exigem intencionalidade pedagógica. Aliás, o trabalho que se pauta nos conhecimentos do senso comum (importantíssimo para levar a cabo o processo de humanização também) não é suficiente para nortear nossas práticas docentes. O que me leva à afirmação não foi senão o contato com a Teoria Histórico-Cultural. Antes tarde do que nunca.  
* Membros do grupo de estudos MEDIAR - Grupo de estudos e pesquisas em práticas educativas, de Foz do Iguaçu, Paraná.   

Obs.: Este texto está publicado em primeira mão no blog da Profª. Rosane Welk. 

Um comentário:

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