sábado, 20 de junho de 2015

Projeto de Investigação - Exercícios de Olhar


O que você vê nesse buraquinho?

...que a importância de uma coisa não se mede
Com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo
encantamento que a coisa produza em nós”.
Manoel de Barros

Justificativa:

As práticas pedagógicas que compõe a proposta curricular da Educação Infantil devem (...) garantir experiências que: [...] Possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas e outros recursos tecnológicos e midiáticos (DCNEI, 2010, p. 27).
Sabemos disso e diariamente observo televisores ligados, aparelhos de som reproduzindo insistentemente músicas escritas e gravadas exclusivamente para o público infantil e professoras fotografando suas crianças nas mais variadas poses.
Sou dessas professoras que insistentemente busca registrar para a posteridade as brincadeiras, encontros, experiências do grupo ao qual pertenço, fotografando freneticamente cada uma das crianças e constantemente sendo questionada sobre o que estou fazendo, seguido de um pedido para ver como ficou a foto.
Buscando desenvolver práticas que favorecessem a experiência de ver com atenção, sensibilizar o olhar, perceber detalhes contemplativos, solicito as vezes que alguma criança fotografe o grupo em ação e, um dia, sem bateria na câmera digital e utilizando uma antiga máquina analógica (que infelizmente deixou de funcionar) uma delas me perguntou: - Prô, afinal, o que você vê nesse buraquinho?
As crianças são atentas. Assim como facilmente seduzidas e aquietadas com os conteúdos midiáticos, estimulam-se e inquietam-se com os desafios, escutam cada avião que passa, percebem nosso estado de espírito. São inventoras, investigativas. Se dermos a elas liberdade no processo criativo e estímulo para pesquisar suas curiosidades, continuarão a caminhar em campo aberto. Pensando nas crianças e no não domínio técnico da fotografia, mas na abundância imaginativa, estou certa de que elas são infinitamente capazes de fotografar.
Proponho, então, experiências com a máquina fotográfica, seus desdobramentos, investigações e possíveis descobertas através de exercícios e percursos investigativos do olhar. A fotografia pensada aqui pela via do registro do olhar, da poesia, da criação, da brincadeira. Essa aproximação da arte com a brincadeira, une à imaginação, a fantasia, a interação, a ludicidade, a exploração, a curiosidade, as múltiplas linguagens, a descoberta além de reconhecer a criança como ser poético (OSTETO, 2010).
Essa proposição pedagógica implica antes de tudo reafirmar a criança como sujeito de direitos. É permitir a elas uma relação de intimidade e pertencimento com o mundo. Pensar na criança como ser poético é oferecer a elas possibilidades de ver as coisas muito além da nossa janela. O nosso enquadramento, não dá conta de ver o mundo sem fronteiras como as crianças o vêem. Ao colocar a máquina fotográfica nas mãos das crianças, não procuramos exímios fotógrafos, procuramos ver o que os nossos olhos não alcançam, entender o que as palavras não conseguem expressar. E buscamos também descobrir o que afinal vemos nesses buraquinhos...


Ações:
  • Expor fotos e conversar sobre cada uma delas;
  • Escuta da fala das crianças, fazendo perguntas pertinentes ao assunto, incentivando-as a elaborarem melhor suas respostas;
  • Fotografar em diferentes situações luminosas: no escuro absoluto, com luminosidade alta, baixa, etc.;
  • Votar uma quantidade de fotos iniciais a serem tiradas por cada criança, ao seu modo e sua escolha;
  • Explicar o que são retratos, como são feitos, pra que servem, onde os encontramos no Centro. Depois, solicitar que façam duplas e tirem retratos um do outro, discutindo os resultados;
  • Brincar com projeções de luz, criando imagens/sombras de seus corpos na parede;
  • Responder e registrar (professora escriba): O que é sombra?
  • Falar sobre enquadramento: O que se vê e o que não se vê dentro da moldura, do quadro, do buraquinho, do visor? O que está fora e o que está dentro? É um jogo de seleção e escolha;
  • Eleger o que para as crianças é mais relevante, trazendo para dentro da moldura as suas preferências: os detalhes, os brinquedos, os amigos, os esconderijos, através de exercício com variadas molduras - rolos, carretéis, caixas abertas de tamanhos diversos – para o olhar ir adaptando-se ao tamanho do quadro cada vez menor, até chegar ao tamanho do “buraquinho de colocar o olho na máquina”, o visor;
  • Fotografar o céu, o topo das árvores, dos prédios. Aonde o olhar alcança e as mãos não tocam;
  • Preparar um vídeo e uma mostra para divulgar nossas produções.

Cronograma: 22 de junho a 17 de julho
Referências Bibliográficas:

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Secretaria de Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, 2010.

OSTETTO, Luciana, Esmeralda. Educação Infantil, arte e criação: ensaios para transver o mundo. In: Diretrizes Educacionais-Pedagógicas para a Educação Infantil/ Prefeitura Municipal de Florianópolis. Secretaria Municipal de Educação. Florianópolis, 2010.


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